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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Encontro

Empurro com esforço o portão enferrujado. A república em que ele mora é uma casa velha, caindo aos pedaços, numa ruma sem saída, com grama alta e lixo na porta. Sinto um ar azedo. Ele acompanha o livro aberto. A cabeça raspada dirige a atenção surpresa para a porta. Oi, tudo bem? Os braços tatuados pegam a única cadeira velha no canto. O corpo sem camisa se volta para a cama desfeita, enquanto a calça de moleton surrado se estende à minha frente. Encaro os dedos sujos dentro do chinelo havaiana.

Domingo é fim de festa. Esperei desde às três da tarde até que ela apareceu. Você está esperando alguém? Estou, marquei encontro com um cara. Ele é seu namorado? Não, mas me convidou para ir ao cinema ontem à noite e eu não aceitei. Por quê? Sei lá... liguei para ele e deixei um recado de que o encontraria aqui às três horas. Já passou meia hora, acho melhor você desistir. Tchau!

Conheci-o na sexta à noite, numa praça da Cidade Universitária; sentada com amigos entre um copo e outro de cerveja. Seu rosto dourado sorriu. Calça, camisa e sapatos impecáveis vieram até nossa mesa. Seu perfume amadeirado trazia vários exemplares de uma publicação caseira. Escrevia versos de barítono. Conversamos. Trocamos olhares e telefones. No dia seguinte, ele ligou, mas recusei o cinema assustada.

Ela aparece na república, quando me vê abaixa a cabeça. Ele levanta e vai conversar por instantes. Sinto a roupa ficar apertada! Ele volta. Quando você telefonou, ela atendeu e não me deu o recado. Resolveu ir atrás pra saber como você era. Mas não esperava te ver aqui. Ela é minha namorada!

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