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domingo, 30 de maio de 2010

Design de letras

Design de letras



Outra coisa eu adoro fazer é design de letras. Estas surgiram de minha fixação pelo Fantasma da ópera. Então, desenhei as letras.

Tucuruí

Tudo começou em 1978, era do milagre econômico, conforme se dizia em casa. Nem sei ao certo por quê, afinal, eu tinha treze anos. Hoje, pesquisando mais sobre o assunto, vejo que o milagre econômico aconteceu no governo Médici, uns cinco anos antes, já que no Brasil passaram a existir as obras faraônicas como a Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói, as hidrelétricas; estavam investindo no futuro e precisavam de trabalhadores.

Meu pai, economista formado pela PUC/SP, com pós-graduação, era um entre poucos com nível superior e ótimas chances de emprego com salário significativo. Algumas pessoas como ele acreditavam que ficariam ricos. Afinal, o país crescia e precisavam de gente com bom nível de escolaridade, no entanto, existiam poucos no mercado.

Então, eu, meus pais e meus irmãos fomos viver em Tucuruí. Um povoado que lembrava o início da colonização do Brasil, no norte do país, estado do Pará, a 400 km da capital, Belém. Esta distância facilmente percorrida de automóvel no estado de São Paulo, não era tão fácil de percorrer assim. Primeiro, porque não havia estradas, segundo porque, nos seis meses de chuva, a região era muito irrigada e facilmente inundava. Avião era um meio de transporte muito utilizado.

Da primeira vez que viajei de avião foi quando mudamos para Tucuruí. Pegamos um Boeing 727 em São Paulo, saímos de um ambiente em torno de 20° na cidade e dentro do avião, para 40° no aeroporto de Belém. Quando descemos do avião, não tinha oxigênio. Além de calor, senti falta de ar.

_Mãe, cadê o ar?

_Não sei, realmente está muito quente aqui!

Não era só calor, a umidade do ar em determinados períodos, como no verão chegava a 80%. Dava uma sensação de mal estar, como se fôssemos sufocar com falta de ar.
A opressão era sentida como se estivéssemos dentro de uma caixa. Apesar disso, era tudo muito grande. As árvores eram imensas e fechadas, era impossível ver o céu. O céu era verde. Sentíamo-nos como se estivéssemos dentro de uma caixa forrada de plantas. O ar era úmido. As calçadas eram esburacadas, cheias de poças de água. Mas não era recomendável pisarmos numa poça, porque se molhássemos o pé pegávamos micose.

_Que choque ambiental!



Apenas duas vezes por ano viajávamos para Belém, quando viajávamos de avião monomotor, com lugar para seis passageiros. Então, quando tinha turbulência, sentíamos aquilo chacoalhar horrivelmente. Foi nossa primeira experiência com aviões e aeroportos. Meu irmão, que tinha oito anos, passou a adorar aviões e a dizer que queria ser piloto.

_Nossa, mãe, que legal! Quando eu crescer, quero ser piloto de avião. Como o avião funciona, pai?

_Venha, eu vou te levar à cabine. Aeromoça, podemos visitar a cabine? Meu filho quer saber como funciona um avião!

_Espere um momento, senhor, que eu vou verificar com o piloto.

Daí a alguns minutos a aeromoça voltou dizendo:

_Vocês podem vir comigo, que o capitão autorizou que vocês visitem a cabine.

Então, meu pai e meu irmão seguiram a aeromoça. Embora para mim tudo fosse novidade também, eu preferia olhar as nuvens pela janela da aeronave. Era interessante o formato que elas faziam. Eu me sentia leve e livre, apesar de estar sentada dentro de um avião. Imaginava a sensação do piloto. Isto sempre pareceu fascinante!

No aeroporto de Belém, pegamos um avião menor, um Cessna, que nos levaria para Tucuruí. Já no Cessna em que viajávamos de Belém para Tucuruí quase não havia separação entre o piloto e os passageiros. Como acontecia frequentemente pegamos turbulência, o aviãozinho começou a chacoalhar, senti um enjôo, mas sempre detestei vomitar.

_Filha, sente direito, afaste a cabeça para trás e procure ficar relaxada que o enjôo passa.Disse meu pai. Ele sempre foi ótimo para dar conselhos corajosos.

Foi o que eu fiz. Minha mãe, que sempre foi a apavorada por excelência, ficou nervosa quando viajou de Boeing e mais nervosa ainda quando viajou de Cessna. Só ouvíamos seus gemidos:

_Ai, ui, ai, meu Deus!

Foi tragicômico. Era uma aventura viajar de avião, mudar para outro estado, ir morar numa cidade menor do que o Bairro de Vila Madalena, onde morávamos.

Nossa, foi uma experiência! Agora percebo que minha história faz parte da História!
Hoje em dia, eu acesso no Google, pela internet, a vista do satélite e vejo a cidade de Tucuruí com 73.798 habitantes, de acordo com o Censo Demográfico de 2000, feito pelo IBGE. Acho tudo muito espantoso, porque quando eu cheguei à Tucuruí, a cidade mesmo, era um povoado no meio do nada. O que existia de diferente e com condições de vida muito melhores era a vila temporária e a vila permanente.

Ainda assim, a vila temporária era muito rústica, porque fora construída para os primeiros trabalhadores da hidrelétrica, piões, responsáveis pela terraplanagem e a construção da vila permanente, onde morariam os trabalhadores da hidrelétrica, assim como o corpo administrativo da empresa, responsável pela construção da hidrelétrica, de que meu pai fazia parte.

Então, moramos numa casa de três quartos, ampla, com varanda e um quintal que dava para a floresta amazônica. Nossa casa era de esquina e, na esquina seguinte, ficava o clube, com piscinas, quadras de tênis, quadras de futebol e salão de festas, onde ocorriam shows e tinha discoteca toda semana. Para alguém da minha idade, não tinha muito que fazer a não ser namorar!

E foi o que eu fiz.

Comida

Eram dez horas da manhã, sábado, dia de visita no hospital. Depois de pegarem o elevador no segundo prédio, tinham que passar por um vigia que verificava o que as visitas estavam levando. Tinham que abrir as bolsas ou sacolas que carregavam para mostrar se não estavam levando chocolate, doces, salgadinhos, comida, enfim, para as pacientes da obstetrícia que seguiam um regime forçado de duas mil calorias diárias.

Os visitantes se dirigiam para a sessão em que as grávidas apresentavam problemas renais, hipertensão arterial, problemas cardíacos ou diabetes. Eram restrições para uma gravidez segura e saudável. E em todos estes casos, o regime alimentar era não apenas aconselhável, mas obrigatório.

Dona Rita e seu genro estavam na fila da visita como todos os dias: sábados e domingos das 10h às 18h, segunda a sexta das 16h às 18h. Para as pacientes este era um momento importante, quando tinham contato com o mundo fora das paredes do hospital. No entanto, nesta época, o hospital estava ainda mais tumultuado devido à doença do Governador Mário Covas, que estava internado em tratamento no mesmo hospital, em outro prédio.

Quando os visitantes começavam a aparecer notava-se a movimentação no corredor e a euforia das pacientes. Se as mulheres já são seres complicados, grávidas então, ficam mais complicadas. É claro que nem todas são iguais, porém a sensibilidade aumenta numa intensidade absurda e qualquer coisinha pode magoar ou alegrar com a mesma facilidade.

A verdade é que quando os visitantes se aproximam dos quartos, até o coração dispara.

_Oi, filha!

_Oi, mãe!

Dona Rita e sua filha se abraçam. Sônia começa a chorar.

_Não agüento mais isto aqui! Eu quero ir embora!

_Calma, logo, logo, você sai daqui com o bebê.

_Mas que droga, eu não tenho mais vida! Sou uma encubadeira que vocês estão esperando completar a carga e desovar?

_Filha, não fale assim! Não existe nada mais importante do que a maternidade.

_Caramba, e a minha vida? Não consigo mais ficar aqui, vou ficar louca. Desmaio todos os dias. Olha os meus braços! Sônia estendia os braços e mostrava os hematomas.

_ Estas enfermeiras sanguinárias só fazem me furar e são tão imbecis que não acham minhas veias. Então ficam furando até os braços ficarem bastante roxos.

Luís pegava os braços da mulher e olhava. Ele sempre quis ser pai, mais do que tudo, mas não imaginou que tudo fosse tão doloroso ou tão difícil. Ia ao hospital todos os dias. Saía do trabalho, passava na casa da sogra e a levava para o hospital. Mas toda vez que chegavam lá era para ver Sônia com os braços furados e roxos. Já fazia três meses que ela estava internada, de acordo com os médicos, era para controlar a glicemia. Mas que porcaria eles estavam fazendo que não controlavam? Que brincadeira era essa?

_Filha, olha só o que nós trouxemos para você! Dizia Dona Rita, abrindo a sacola, tirando um embrulho de toalha e pijama e abrindo-o com cuidado.

_O Luís fez chuchu refogado e eu refoguei escarola para você comer. Fiz dois maços de escarola.

_Oba, que maravilha! Dizia Sônia. Meninas, vamos comer escarola e chuchu no almoço de hoje!

As três colegas de quarto até comemoravam. Elas comiam muito bem quando a Sônia recebia visitas. A fome era tanta que maços e maços de verdura nunca era o suficiente. Além disso, é bom que se explique, não há limite para o tanto de verdura que se coma, na verdade, quanto mais verdura, melhor, mais vitamina C, mais sais minerais, mais vibras, o intestino funciona melhor e o estômago fica com a sensação de saciedade, por isso a fome passa. É o ideal de dieta.

Chegava a hora do almoço, no hospital era em torno de 11h, quando as refeições eram servidas. A comida era boa, sempre tinha bastante arroz, feijão, um prato pequeno de salada, gelatina ou um pedaço de fruta. Também serviam um copo de suco. Porém ninguém tinha o direito de repetir a refeição, nem mesmo podiam comer qualquer outro tipo de comida além do que era servido, porque fazia parte da dieta. Então, era comum terminarem a refeição e não sentirem saciedade, a não ser quando Dona Rita preparava algum legume ou verdura especial e escondia dentro de uma vasilha, empacotada no meio de roupas ou de toalha.

As pequenas coisas da vida são as que trazem maior felicidade!

domingo, 23 de maio de 2010

Ethel, Gebo, Freya, Thor



Esta é uma intervenção que une as runas da espiritualidade(a seta para cima), com o movimento, os ancestrais e X (Gebo ou Freya,a runa do amor). Eu interpreto como "a busca da espiritualidade está no amor aos ancestrais".

Thor Algiz



Esta runa corresponde ao deus nórdico Thor, também chamada de Algiz, ou espiritualização. Porém, já apresenta interferência, pois a runa Thor é uma seta para cima. Aqui, além da seta para cima existe o W que representa o cavalo ou as valquirias, runa da viagem ou do movimento.

Othila




Acho esta runa incrível, pois representa os ancestrais, também chamada de Ethel.

Ideograma rúnico



Esta runa se assemelha a um retalho de tecido rústico, então, associei as runas fazendo um ideograma, ou seja, escrevendo uma mistura de duas runas ou dois símbolos diferentes. Este é o tecido sobre o qual escrevi.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Runa Jera




Associo a runa Jera a esta imagem fotográfica. Ambas são circulares e pressupõem movimento. Jera gera movimento, então se pode colher. Daí a colheita.

Berkana



Corpo e natureza. Natureza do corpo. Brotamos da terra para o céu.

Runa Berkana


Gosto muito desta runa, porque para mim ela representa o feminino, a mãe, a criação. E não há nada mais sagrado. Sinto-me sagrada num sentido mitológico uma vez que faço desta experiência minha vida, ou ainda, minha vida é mergulhar nesta experiência.

Runas



A runa com que eu fiz as imagens anteriores foi esta. Aqui está o que ela representa, acrescido de um trabalho com poesia concreta.

domingo, 16 de maio de 2010

Doença Hereditária

Ana Paula era uma jovem de cerca de 20 anos. Vivia em Paraisópolis, numa casa de alvenaria caiada com quatro cômodos. Ana Paula se preparava para ter um bebê. Estava grávida de seis meses. Sentia muito sono e cansaço; comprava o enxoval do bebê aos poucos com seu salário de caixa de supermercado. Sempre fora uma pessoa esperta, cheia de iniciativas, apesar de não ter estudado mais do que o Ensino Básico.

Era muito boa em contas. Resolvia qualquer cálculo com facilidade. Por isso mesmo, era uma das caixas mais ágeis. Também era boa de papo, conversava como ninguém e vivia dando conselhos. Porém, nos últimos meses não andava tão bem. Suas colegas estranhavam:

_Ana, como está?

_Não estou muito bem não. Estou me sentindo muito cansada e com sono. Não consigo prestar atenção no trabalho.

_ E o Carvalho?

_Nas últimas semanas está sóbrio e disse que vai procurar emprego. Saiu hoje cedo para uma entrevista.

_Ana interrompeu a conversa, virou para a cliente e disse:

_O total deu R$237,00. Vai pagar com cartão? De débito ou crédito?

_Ah, débito.

_Pode digitar a senha.

_Obrigada.

Então a conversa com a colega continuou:

_Mas eu não estou bem mesmo. Já fui ao médico e ele me pediu uns exames. Amanhã cedo tenho que ir ao Posto buscar. Foi horrível fazer este exame, pois fiquei horas tomando um troço melado, enquanto tiravam amostras do meu sangue. Foi um saco!

_Ah, se Deus quiser não é nada!

_Assim espero.

Algumas semanas depois de retirar os exames, Ana voltou ao médico e entregou o envelope com o resultado dos exames. Depois de abrir o envelope e olhar os exames com atenção, o médico levantou a cabeça e disse:

_Dona Ana Paula, parece que a senhora tem diabetes gestacional.

_O que é isto, doutor?

_Existe um órgão chamado pâncreas que produz um hormônio chamado insulina, responsável por digerir os açúcares ingeridos pelo organismo. Se o pâncreas não produz insulina suficiente, os alimentos que você come não são corretamente aproveitados. Assim, o pão, as frutas, o macarrão, o arroz, o feijão, quase tudo que você come, com exceção das verduras, não será corretamente aproveitado. Aí, seu sangue fica com excesso de açúcar, assim como o sangue do bebê. Isto é muito perigoso porque você ou o bebê podem morrer se não fizer um tratamento conveniente.

_E o que eu tenho que fazer?

_Vou indicá-la para ir ao Hospital das Clínicas, pois lá eles têm uma equipe de médicos especializados em diabetes gestacional. A senhora deve ir agora e levar este guia para ser atendida. Provavelmente terá que ficar hospitalizada por alguns dias até que consigam controlar sua taxa glicêmica, ou seja, a quantidade de açúcar no seu sangue.

_Doutor, meu pai morreu porque ficou diabético!

_Diabetes é uma doença ingrata, causada por obesidade ou por características hereditárias, o que parece ser o seu caso. Talvez depois de o bebê nascer, você volte ao normal. A gravidez pode provocar diabetes porque neste caso todo o seu organismo tem que funcionar por dois e, às vezes, os órgãos não agüentam. Assim, seu pâncreas não consegue produzir insulina suficiente. Por enquanto, é importante fazer uma dieta, deixando de comer doces, pães, macarrão e comendo apenas duas frutas por dia, quatro colheres de sopa de arroz, uma colher de sopa de feijão e um bife (ou uma coxa ou ante-coxa de frango, ou uma fatia de peito de frango, ou um ovo cozido) no almoço e no jantar. Não se esqueça de comer bastante verdura, como: alface, repolho, almeirão, rúcula, acelga, agrião. Verdura não tem contra indicação e você pode e deve comer à vontade, principalmente porque ocupa lugar no estômago e tira a sensação de fome. Além disso, eles melhoram o funcionamento do intestino, limpando o sangue e a pele. As verduras são fonte de importantes vitaminas, como vitamina C, E, além de sais minerais. Você também pode comer legumes, como: cenoura, vagem, berinjela, abobrinha, mas apenas uma batata pequena ou um pedaço pequeno de mandioquinha por refeição. Evite gorduras e frituras!

_Tá certo, doutor!

_Mas vá correndo ao HC.

No dia seguinte, muito preocupada, Ana chegou às sete horas da manhã para conseguir ser atendida no HC. Pensando no que o médico disse, Ana aguardou até às onze e meia para ser atendida. Estava muito cansada, com fome, com sede e com muita dor nos pés. Era o segundo dia seguido que faltava no supermercado. Tinha pedido a sua vizinha, que trabalhava ao lado do mercado para passar lá e avisar ao supervisor que faltaria, pois estaria no médico.

Tirou as sandálias e enquanto esperava sentia uma angústia, lembrando do que acontecera com o pai. Seu Patrício morrera aos cinqüenta e cinco anos. Meses antes ele vinha se sentindo mais cansado que o normal. Tomava tanta água que sua esposa, Dona Leocádia, tinha que encher o filtro umas quatro vezes por dia. Seu apetite aumentar, no entanto, ao final de três meses ele emagrecera uns dez quilos.

Com a insistência de Dona Leocádia, ele fora ao Posto de Saúde e fizera exame de sangue. Estava diabético. O médico lhe passara uma dieta e lhe mandara tomar um comprimido uma vez por dia. Depois de alguns meses ele estava melhor. Mas não gostava de fazer dieta e, principalmente, bebia muito.

Alguns anos mais tarde, passou a ficar com os pés roxos. Ele reclamava de dor nos pés e ao mesmo tempo de falta de sensibilidade nos dedos. Estava perdendo a visão. Começou a reclamar de dor ao urinar. Foi diagnosticado com infecção urinária. Um dia, porém, há cinco anos, reclamou de forte dores no peito e quando o levavam para o Posto de Saúde, ele teve um ataque cardíaco e seu coração parou.

Onde está o bebê?

O início

Era sete de novembro de 1997, eu estava na cozinha, estreita, de 1,50m por 3m, em frente à pia, lavando alguns maços de verdura, pois precisava seguir uma dieta rígida. Estivera com colesterol alto e hiperglicemia. Então, abri a porta da geladeira e peguei o maço de brócolis que comprara há uns quinze dias. Para minha surpresa, no lugar da verdura estava um ramalhete de pequenas florzinhas amarelas. Lembrei que era meu aniversário e comecei a chorar, pois sentia como se o pequeno Felipe _ pois este seria o nome do bebê_ estivesse me homenageando.

Tudo era profundamente doloroso. O bebê estaria com cerca de cinco meses de vida, mas nascera morto. Era um natimorto, em linguagem técnica; no entanto, para mim, era um bebê grande e sorridente. Eu o via como se estivesse sempre ao meu lado. Afinal, ele me dera alegria, força e me consolara.

Aquele pé de brócolis impossível de ser comido alimentava meu coração e minhas expectativas maternais de que meu filho estava vivo. Eu o via, ele falava comigo. Ele sorria porque sabia que eu o amava. No entanto, eu me recusara a ver seu corpo morto. Pedi que ele fosse cremado, mas não o levei ao crematório, não o lavei, não o vesti, não o vi dentro do caixão. Mas chorei sua morte por seis longos meses. Eu estivera em licença maternidade, passara todos os dias em casa e chorava de manhã, de tarde e de noite, sem ter com quem desabafar. O Demétrius não queria que eu chorasse. Ser pai deixava-o inseguro e agitado.

Lembro quando, por volta de onze da noite, eu torcera o pé ao descer a calçada para entrar no Mc Donald´s, saindo do estacionamento em frente de casa. Eu estava com um barrigão e o Mc estava quase fechando.

_Vamos logo porque eu QUERO COMER ESTE LANCHE! Gritou o Demétrius.

Ele estacionou o carro, porém tínhamos que andar do estacionamento até a loja. Eu me distraí e ao passar pelo meio fio, pisei em falso, torci o pé e caí. Para quem tinha 50k g antes, eu estava gorda! Pesava 58k g e era meio desajeitada para andar e me movimentar. A barriga estava grande, levantar sozinha era uma dificuldade. Meu tornozelo doía muito. O Demétrius me ajudou a levantar; porém, até chegarmos à porta, as luzes da lanchonete se apagaram e tudo ficou trancado.

_Mas que droga, Silvia! Por que você fez isto? EU NÃO DISSE QUE QUERIA COMER UM LANCHE?

É , para variar, eu era culpada por não conseguir realizar um de seus desejos! Daí em diante, tive que ouvir reclamações histéricas de um homem grosseiro e estúpido com o qual eu me casara aos vinte e poucos anos.

O Felipe morrera por minha culpa. Afinal, o que era ser uma diabética grávida?
Eu entrara no sétimo mês, um período em que normalmente não se tem mais enjôos. Tinha ido ao trabalho, porém eu me sentia muito cansada e enjoada. Fui para casa. No dia seguinte, eu continuava me sentindo mal. Liguei para uma amiga médica homeopata:

_Oi, tudo bem, doutora?

_Tudo. E você?

_Eu não estou me sentindo bem, estou muito cansada e com bastante enjôo. Nem nos primeiros meses de gravidez eu me sentia tão enjoada.

_Silvia, vá para o Pronto Socorro e verifique o que está acontecendo.

_Tá bom, doutora!

Liguei para minha sogra e disse que iria para o Pronto Socorro. Ela se ofereceu para me acompanhar. Então, o Clínico Geral me atendeu e eu disse como estava me sentindo. Ele recomendou que eu fizesse um ultrassom, pois não ouvia os batimentos cardíacos do bebê. No ultrassom, o médico perguntou:

_O feto tinha alguma má formação?

_Não, doutor, no último ultrassom ele estava normal e saudável.

_Não há batimento cardíaco. Concluiu o médico.

Como assim não há batimento cardíaco? Eu pensei. Então, fiquei internada. Fui colocada na UTI, onde ligaram vários fios para acompanhar minha respiração e meus batimentos cardíacos, pois eu respirava com dificuldade e sentia muita dor no peito.
Um aparelho de TV estava preso próximo do teto e ligado. Eu pude assistir à propaganda de lançamento do Fiat Marea : bonito, espaçoso, com bom acabamento, parecia um carro grande e confortável. Lembro inclusive da trilha sonora, que eu só conseguia acompanhar com o lálálá lá lálálá lálá.

Passei a noite na UTI tomando soro e com constantes medidas dos batimentos cardíacos. Dormi e sonhei com o pequeno Felipe, ele estava feliz, olhava para mim e sorria. Ele era tão real! Dormi feliz e em paz!

No dia seguinte, fui levada para o quarto do hospital. Então, o Dr. Henrique, o obstetra com o qual eu entrara em contato há alguns dias, foi até o quarto e disse:

_Silvia, o bebê está morto! Sua glicemia está alta, então não será seguro tirá-lo com uma cesárea, pois você pode ter uma infecção e não sarar. Vamos ter que induzir o parto, você terá que dar à luz um bebê morto.

Eu já desconfiava que o bebê tivesse morrido, embora não pudesse acreditar neste fato. Então, muito prática e objetiva, como sempre, tudo o que eu disse foi isto:

_Tudo bem, doutor, eu só não quero vê-lo.

_Como você quiser.

Então, começaram a aplicar soro nas minhas veias para provocar a dilatação e induzir o parto. Fiquei um dia e algumas horas tomando soro. Levaram-me a uma cama especial no Centro Obstétrico, ela era muito estreita e eu tinha que ficar com as pernas abertas e penduradas, como se fosse fazer um exame de colo de útero. Os médicos que me acompanhavam até a chegada do Dr. Henrique, andavam de um lado para outro, enquanto eu sentia dor, e, em seguida, quando esperavam que a anestesia aplicada na coluna vertebral fizesse efeito, eles conversaram:

_Então, vai vender o carro?

_Vou, só não decidi que carro comprar.

_Você conseguiu o dinheiro ou vai financiar?

_Consegui um financiamento. A concessionária realiza tudo para mim, basta levar os documentos.

_Mas por que você não vende na concessionária?

_Porque eles vão pagar menos do que o cara para quem eu vou vender.

É um assunto absurdo falar sobre automóveis enquanto uma paciente está acordada, emocionalmente abalada e sentindo dores? Concordo! Os médicos podem não demonstrar nenhum respeito pela vida e pelo sofrimento dos pacientes. Deviam ensinar nas Faculdades de Medicina que o silêncio é recomendável para demonstrar respeito pela dor dos pacientes.

Ao final da noite, o Dr. Henrique estava lá para tirar o bebê. Conforme eu pedira, eu não vi nada. Acordei no quarto do hospital no dia seguinte, quando conheci a Drª Flávia, endocrinologista conhecida do Dr. Henrique, que trabalhava com o mesmo convênio. Ela tinha cerca de 1,50m, era clara,tinha olhos e cabelos castanhos na altura dos ombros. Depois de se apresentar, ela me perguntou:

_Você conhece insulina Regular?

_Não.

_É uma insulina que se toma para controlar a glicemia quando a taxa está alta, mesmo fazendo uso da insulina diária NPH. A insulina Regular começa a fazer efeito duas horas depois de injetada. Seu pico ocorre cerca de quatro horas depois de aplicada, enquanto a NPH demora mais para fazer efeito. Ela começa a funcionar depois de quatro horas, no entanto, funciona durante um dia inteiro; enquanto que a Regular faz um efeito mais rápido, porém dura menos tempo.

_Doutora, nunca ouvi falar disso!

A doutora saiu do quarto muito irritada, pisando firme, talvez julgasse que a morte do Felipe podia ter ocorrido por negligência média. Bem, eu penso nisso até hoje. A doutora Flávia me manteve no hospital por uma semana, pois segundo ela:

_Você vai ficar aqui até conseguir controlar a glicemia.

Eu fiquei uma semana seguindo a dieta estipulada, tomando remédios e nada de controle! Controle! O que é isto?

sábado, 15 de maio de 2010

workshop com Julio Rocha Técnicas de Escrever Ficção

A revelação

(Beatriz Stapleton; José Antônio Casari Davantel; Mônica Brancalion Davantel; Maria Tereza Moreira Miggiorin; Silvia Ferreira Lima)

A janela do quarto era iluminada pela noite de lua cheia. Deitada em sua cama, num estado de vigília, sentia o sopro da brisa. De repente, percebe a luminosidade e um tremor inexplicável que derruba seu porta-retrato do criado-mudo; isto faz com que ela se sente na cama. Olha e vê estupefata, na beirada da janela, uma base luminosa e metálica que leva à entrada de um túnel.

Sem compreender a situação, Luana se levanta e dá alguns lentos passos em direção à luz. Então, nota que está diante de uma nave emparelhada com a janela de seu apartamento no 18º andar. Ouve um sussurro chamando-a pelo nome. Curiosa, pensa em seguir adiante e quando repara já está dentro de uma sala.

_ Quem é você? Como você me conhece? Ele parecia um ser de luz.

_Eu sou Ricardo. Nós no conhecemos há muito tempo. Vem comigo.

Espantada, cheia de receios, ela segue assim mesmo. Luana olha numa tela em que vê uma cidade com ruas amplas, cercada por pinheiros. Sente o cheiro do verde ao seu lado. Não era mais uma tela, sua visão se transforma no próprio ambiente. Seu corpo já está presente.

_Onde estamos? Luana pergunta.

_Estamos na Terra, numa outra dimensão. Diz Ricardo.

_Por que você me trouxe aqui?

_Trouxe você para mostrar seu papel fundamental no futuro da humanidade. Diz Ricardo.

_Que futuro? Do que você está falando? Eu não compreendo...

_Não quero lhe assustar, mas daqui a algum tempo, você ficará grávida. Será uma gravidez difícil. Mas, quando menos esperar você receberá ajuda, porque eu preciso nascer.

_Gravidez? Eu? Você precisa nascer? O que é isto?

_Não se esqueça do que eu digo, Luana...a compreensão só virá depois de certo tempo. Em 40 anos, receberei um Prêmio Nobel em Ciência, pela descoberta de um novo tipo de combustível capaz de reduzir a poluição do planeta.

Luana fecha os olhos, a imagem de Ricardo começa a ficar turva. Um peso na cabeça e um frio no estômago tomam conta de suas sensações. Teria tanta importância para o futuro do planeta? Abre os olhos, e é noite lá fora. Teria sido um sonho?

sábado, 8 de maio de 2010

O lance de runas

Aqui completo a sequência, são cinco escritas com o mesmo fractal. Afinal, o fractal em si, representa para mim o mesmo que a runa.


Quando os dois polos se unem temos a fecundação, a origem, a criação e a forma. O nada passa a ser tudo. A alma da vida antes de mais nada existe em buscar nova vida, em manter o processo de criação como um movimento eterno. A vida é movimento e a morte estagnação. A vida é riqueza e a morte empobrecimento. A vida é fértil porque esta é sua primeira característica como vida.

O lance de runas


Lançar runas faz-me pensar no poema de Mallarmé, "O lance de dados".
O jogo sempre foi um momento lúdico, de desafio, de brincadeira e de prazer.
Utilizando o mesmo fractal, associo novas palavras, como eu disse, a imagem diz mais do que as palavras. Quando queremos escrever sobre o que vemos, ficamos horas tentando e apenas circulamos a falta. Discurso do neurótico, procurar completar o que desde o início é dividido...

O lance de runas

As runas representam deuses nórdicos, neste caso, o masculino Freyr e o feminino Freyja. A imagem da runa está no que foi postado anteriormente.
Por que escolhi runa? Por que a runa está no limite entre o desenho e a escrita, por isso aproxima o que foi uno, como no caso das línguas ideográficas: desenho e escrita.
Tem origem nórdica, e eu não tenho nada de nórdico, talvez, uma ascendência de milhares de anos aos celtiberos, já que os celtas também utilizavam o alfabeto rúnico.
Mas era apenas um ritual de magia, por isso estava no poder dos sacerdotes e não das pessoas comuns. Isto é mais fascinante ainda, o limite entre a religião, a filosofia e a arte...
Tenho fascínio pela origem do mundo e pela criação...

O Jogo de Runas


Este é um projeto com fractais, runas e poesia concreta. Como disse, adoro trabalhar com imagens, elas me acalmam e quando as elaboro digo mais do que estou escrevendo.
É catártico!
Este é um dos projetos que comecei a fazer e não concluí, mas ainda tenho tempo...
Então, aqui vai!!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Alternativa de cartaz

Em Design Gráfico, fiz esta alternativa de cartaz. Escolhi esta mão e coloquei as manchas como se fossem marcas de digitais.
Adorei esta imagem em perspectiva do corredor do prédio Morumbi da Universidade Anhembi Morumbi. Justamente onde se localizam os cursos de Design e Moda.
O prédio em sim é muito bonito, com espaço amplo, um jardim, salas bem estruturadas com bom equipamento.
Estou fazendo propaganda? Neste caso, apenas retrato a verdade. Este prédio é um local privilegiado.
As manchas são circulares, porque a criação é circular, os planetas são circulares. A criação artística e o Big Bang são um coisa só.
Energia e forma.
Ideia e arte.

Curso de Pós-Graduação em Design de Hipermidia


Este cartaz foi produto de um trabalho na disciplina de Design Gráfico. Não sou uma artista, mas curto fazer este tipo de coisa. Relaxo. Vejo coisas bonitas. Desligo dos problemas da vida.
Mas, como tudo que vale a pena, este trabalho exige disciplina, organização, método. Infelizmente, minha rebeldia extrapola minha determinação em fazer algo interessante.
Agora, considero apenas um momento de reavaliação do que já aprendi e já tentei realizar.
Podia ter feito mais ? Quem sabe eu ainda faça?
Conto com tubos de design para trazer novas imagens à minha vida.