Total de visualizações de página

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Non sense

(R I)(DA ÀS) MALVAS

De vigília, no ocaso, ao ouvir o canto de cisnes em agonia, notei sua vítrea palidez gélida e hirta, àquela hora derradeira, quando lhe fugiram seus últimos lampejos, dando fios à teia. Assim foi seu derradeiro alento, rendendo-se o espírito, alando-se para a mansão celeste, pois fora descansar no regaço do senhor e ser riscado do livro dos viventes.
Soou sua última hora e ele se foi como um passarinho. Tomou seu passaporte para o céu, com a candeia na mão. O cortejo cipreste desejava que a terra lhe fosse leve, enquanto lhe encaixotavam e os sinos do campanário dobravam.

Passou o trânsito e foi dada a sentença do seu passamento. Ao terminarem seus dias, as Parcas o conduziram ao último sono rumo à morada eterna.

Fim.

domingo, 24 de abril de 2011

O PONTO

Piso azul gelado e engordurado. Cadeiras de fórmica fria cobertas de farinha de trigo. Manchas esporádicas de goiabada em pasta e chocolate cremoso. O cachorro late no quintal com o focinho encostado nas grades da porta externa. Avental jogado em uma cadeira. Na mesa sem toalha há marcas de farinha de trigo e restos de massa. Cheiro adocicado toma todos os cômodos da casa, apesar das janelas abertas da cozinha. Silêncio fora do normal.Forno quente com duas assadeiras de enroladinhos que passaram do ponto. Alguns estão bem queimados. O telefone toca. Alô! Eu me identifico. Comunicamos o falecimento de Dona Antônia. É... ela deixou nossa casa vazia. Que saudades!

MINUTOS

Sábado. Lua cheia. Os carros deslizam no trânsito das onze horas. O semáforo fica vermelho. Na frente param uma Mitsubishi preta e um Audi prateado. O motorista do Audi abre a porta, sai e começa a gritar. onde é que já se viu? Se liga! Não pode passar na frente dos outros assim, sem olhar! Responde, oh panaca! E chuta o parachoque da Mitsubishi. Do outro lado, ouvem-se gritos de mulher. Não! Não vai lá! Se acalma! Fica aqui! O dono da Mitsubishi abre a porta. Era um homem enorme: Então, ô machão, vai continuar gritando como bicha louca? E agora, mudou de ideia? O motorista do Audi volta e abre a porta. O da Mitsubishi ouve a mulher e entra no carro. Um barulho de estampido fura a janela lateral. A mulher grita: Ai! O marido olha em choque o pequeno banco ensopado de sangue. Pego meu celular e disco 190. Em minutos estávamos no Pronto Socorro aguardando o plantonista comunicar aos pais o falecimento do menino de 2 anos que dormia no banco de trás.

domingo, 10 de abril de 2011

INFÂNCIA


Décimo oitavo andar
o carrinho novo
mergulha
***
Velo(z/c)ípede
leva a cabeça
pra parede
***
Penteia
boneca nova
fica careca
***
Pronto Socorro de Brinquedos
pernas e braços
de crianças
***
BURACO NEGRO
giro a mão
ponho a bola no
PEBOLIM
***
sorriso
cadência
gargalhada
demência
***
cheira
o perfume
da loucura

CINZAS

a clarIdade
abuNdante
de Calor
queima a madEira
onde meus perteNces
Desintegram-se
em cInzas
destruídOs

EM CHAMAS



sINto seu perfume
o Calor de sua pele
me ENvolve e fere
ardo, ENlouqueço
me toma o Desejo
vIolento que Impele
a Ira não respira
O ÓdiO domina

FOGO


INferno INsensível INComensurável
seu sEdutor dEstino cEdo o toma
E dEsdENha com o acENder de
fagulhas fáceis que flutuam
Em EmiNeNtes DIstâncias
vIsÍveIs InvencÍveIs tudo
vencem Oscilantes
O inflamadO fim