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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cafezinho

Maria era pequenininha. Trabalhava numa multinacional, com sede no décimo oitavo andar de um edifício todo envidraçado. O prédio aparecia tanto quanto o chefe de Maria. Ela saía de casa, longe de qualquer saneamento, alimentação, educação. Andava quilômetros. Pegava trem, metrô e ônibus para chegar cedo e verificar que não tinha pó de café, não tinha açúcar, não tinha coador. Ia ao supermercado mais próximo, comprava a mercadoria e trazia a notinha. Tinha que carregar dinheiro para estas emergências rotineiras. Chegava, corria à cozinha, punha o avental branco e deixava tudo preparado antes que o Senhor André chegasse. Seu serviço era o primeiro que aparecia, pois o homem mal entrava e já pedia o café. Neste dia, teve greve de ônibus. Caminhou mais quilômetros do metrô até o trabalho. Chegou atrasada. Não tinha adoçante e não teve tempo de comprar. Preparou o leite, as bolachas, o pão fresquinho, o café com açúcar. Mas a esposa do senhor André apareceu. A mulher era magra esquelética, vivia de regime. Não aceitou o café com açúcar. Senhor André, pela primeira vez, chamou Maria. Que incompetência é esta? Como pode, sua idiota, esquecer de comprar o adoçante? Não sabe que o café tem que estar em ordem? Não sabe que precisa comprar o que falta? Há quanto tempo você trabalha aqui? Maria abaixou a cabeça e tentou explicar. Mas o homem nervoso acabou derrubando o café da xícara que segurava. Maria abaixou para limpar. Senhor André distraído pisou em Maria, escorregou, bateu a cabeça na mesa e mergulhou para o inferno através da janela aberta. A viúva feliz recebeu a herança. Maria perdeu o emprego.

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