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domingo, 22 de agosto de 2010

O rompimento



Mônica tinha dezoito anos e estava apaixonada por João. Porém, ele era filho de uma das famílias mais tradicionais de Avaré, enquanto ela era filha de um mecânico, cuja renda não era suficiente para cuidar bem de toda a família.

O pai de João era advogado e professor de História da Educação no Magistério da escola pública de Avaré. Seus pais eram a favor de que João fizesse um bom casamento, com uma moça de família tão tradicional quanto a deles. Porém, João também se apaixonara por Mônica. E como poderia ser diferente já que ela era uma moça muito bonita e inteligente?

Um dia, João resolveu presentear Mônica com um batom vermelho que comprara numa loja no centro de São Paulo, quando viajara para a cidade em suas férias. Achou que Mônica gostaria do batom, já que era um recente lançamento_ que apesar de cair bem em Mônica_ seria muito difícil dela poder comprar. Então, ele fez um embrulho muito delicado com laços, ou melhor, a vendedora da loja fizera, a seu pedido. Eles estavam namorando há alguns meses, é claro que era um namoro muito discreto, pois encontravam-se na praça da cidade, na porta da biblioteca ou em outros lugares públicos, todos os dias e dançavam nos bailes que aconteciam na cidade.

No dia em que João encontrara com Mônica para lhe dar o presente, ela se admirara, abrira o pacotinho com cuidado e quando viu que era um batom vermelho, admirou-se.

_Nossa, um batom vermelho? Puxa, que surpresa! Dissera Mônica ao desembrulhar o pacote.

_Eu achei que você gostaria. É a última moda em São Paulo. Estive lá neste final de semana e me lembrei de você. Achei que você ficaria muito bonita usando este batom. Experimente!

_Mônica abriu a bolsa e tirou um pequeno espelho de maquiagem. Utilizou-o para passar o batom.

_Nossa, Mônica, ficou demais! Disse João.

_Você gostou? Perguntou Mônica, olhando para o namorado.

_Gostei muito! Respondeu João aproximando-se de Mônica e a beijando. Só não foi um beijo demorado porque estavam sentados no banco da praça e não queriam chamar a atenção dos habitantes da cidade que pudessem estar passando pela praça, ou mesmo, que estivessem nas janelas de suas casas, observando o movimento das pessoas na rua.

Mônica, neste dia, voltou para casa radiante. Imaginava sua vida longa e feliz ao lado de João, que ela amava tanto. Seus pais, Sr. Ângelo de Dona Maria, observaram a filha chegar toda feliz em casa e nada disseram. Sua irmã Berenice, de quinze anos, apenas a vira chegar e perguntara:

_Tudo bem, Mônica?

_Tudo ótimo! Respondeu Mônica, sem dar muita atenção à irmã.

Dias depois, Berenice observava em silêncio a irmã entrar em casa. Tivera uma conversa com o Professor João Antônio de Almeida Queirós, pai do namorado da irmã. Nunca fora confidente de Mônica. Por isso, apesar do professor ter chamado Berenice para adverti-la quanto ao comportamento da irmã, deixando claro que era contra o relacionamento do filho com ela, Berenice tinha se mantido num silêncio respeitoso, principalmente quando viu a irmã entrar em casa chorando.

Maria percebeu o estado da filha, mas também não disse nada. Desconfiou que fosse alguma decepção amorosa e como estas fazem parte da vida, apenas deixou Mônica se acalmar para depois tentar conversar com ela. Berenice desconfiava a razão do choro: Joãozinho, depois de pressionado pela família, devia ter rompido o namoro.

Naquela época, os jovens prudentes não contrariavam os desejos dos pais quanto a um enlace matrimonial. Os casamentos raramente ocorriam por amor, apenas eram acordos entre as famílias dos noivos para se preservarem as propriedades ou os nomes das famílias. Era uma maneira de garantir o futuro dos filhos e dos netos.

As irmãs de Mônica, Alice e Teresa, haviam escolhido seus parceiros e seus destinos. Porém, só aos pobres era permitida esta liberdade. Ainda assim, nem todos os pobres, porque mesmo estes selavam acordos realizando o casamento de sua prole. Casamento por amor só existia na cabeça fantasiosa das mocinhas ignorantes de toda a verdade. Mas estas não demoravam muito para descobrir que o antigo pretendente, e atual marido, casara-se porque era o que a família desejava e não porque ficara encantado com a beleza ou juventude da moça.

Geralmente, depois do casamento, o que restava era a rotina e, em casos privilegiados, o respeito pelo acordo familiar dos antepassados. Estas regras eram o suficiente para manter os casais unidos, assim como as famílias. Porém, existia uma vantagem: o destino estava traçado e as pessoas estariam unidas pelo resto da vida. Os filhos, na melhor hipótese, nasceriam e viveriam acreditando que os pais se amavam e respeitavam. Assim, seu destino seria seguir o mesmo caminho dos pais.

Entretanto, quando qualquer um deles se apaixonava e desejava loucamente concretizar esta paixão, o equilíbrio familiar era posto em cheque e se, por acaso, o jovem se arriscasse, ele deixaria de contar com o apoio e o respeito da família e dos amigos. Ficaria sozinho. Por isso, sabendo que de qualquer modo não poderiam ter o que queriam, escolhiam ignorar a paixão e seguir a recomendação dos pais.

João seguiu as prescrições familiares e deixou Mônica. Esta chorou por dias, até que decidiu aceitar que não ficariam mais juntos. Então, pediu aos pais para ir viver com uma tia em São Paulo. Seus planos eram arrumar um emprego, estudar e cuidar da sua vida. Assim, teve fim mais uma história de amor.

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