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quarta-feira, 14 de julho de 2010

Na Igreja da Matriz


Era mês de junho, próximo às festas juninas. Alice, Mônica e Berenice costumavam andar alguns quilômetros da região onde moravam, para pegar o ônibus e subir o alto do morro que dava para a bela Igreja da Matriz de Piraju. Alice tinha dezessete anos, Mônica tinha quinze e Berenice tinha doze. Naquele dia, como em vários outros, elas foram à missa e foram observadas pela Irmã Honorina, uma freira interessada em montar um coral de músicas gregorianas para cantar na missa de São João, a realizar-se na Igreja.

Depois da missa, ela pediu que as meninas esperassem e lhes fez o convite:

_As senhoritas têm interesse em participar de um coral de meninas que estou organizando? Teremos ensaios todas as segundas, quartas e sextas-feiras, aqui mesmo. Trata-se de um coral de músicas gregorianas. Vocês conhecem músicas gregorianas?

_Sim, irmã. Mas, é claro! Responderam as três, empolgadas.

_Você virão então?

_É claro que sim. Concordaram novamente as meninas.

A partir daí, todas as segundas, quartas e sextas-feiras, as meninas seguiam para a missa, à qual assistiam e depois iam cantar no coral. Como isto ocorria com frequência, Alice começou a observar melhor o motorista do ônibus, que era sempre o mesmo. Ele era alto, moreno, bonito, sorridente. Alice ficou entusiasmada. Afinal, era um homem muito interessante! Um dia, notando seus olhares, ele puxou conversa:

_Onde vão estas moças bonitas todas as segundas, quartas e sextas-feiras?

_Vamos à igreja, respondeu Alice. Estamos ensaiando para cantar no coral.

_Cantar no coral da igreja? Que pena que eu tenho que trabalhar, senão eu ia à missa só para ficar lhe admirando!

_É mesmo? Perguntou Alice, feliz.

_Certamente, disse o motorista. Como você se chama?

_Meu nome é Alice e estas são minhas irmãs: Mônica e Berenice.

_Muito prazer, meninas. Meu nome é João Rodrigues.

_Prazer. Disseram Mônica e Berenice, só que não tão interessadas quanto Alice.

Então, o interesse mútuo foi crescendo a ponto de Alice nem ir mais participar do coral de músicas gregorianas. Ela saía junto com as irmãs, porém não seguia para a igreja, ficava passeando de ônibus até o horário de ir embora para casa.

Assim quando foi dia doze de junho, Alice e João começaram a namorar, pois ele foi à casa do Seu Ângelo pedir a mão da filha.

Alice estava muito apaixonada. Como não poderia estar? Afinal, João era um homem lindo! Carinhoso, apaixonado, romântico, ele era um conquistador. Alice notava que quando estavam juntos não havia mulher que não olhasse para ele. Mas para Alice isso era bom, significava que ela era melhor do que todas as outras que o desejavam, pois era ela quem estava com ele.

Alice começou a preparar o enxoval, sonhando que depois do casamento ela seria ainda mais vitoriosa, porque teria conquistado João definitivamente. Alimentando esta ilusão, ela não via a hora de se casar. Assim, um ano depois, eles se casaram. O Senhor Ângelo ficou muito triste, pois achava que a filha era muito nova para tomar esta decisão tão importante e arcar com as consequências. Mas Alice tinha a personalidade forte e decidida, não adiantou o pai pedir, falar, e chorar. Ela se casou.

A vida para ela parecia uma vida de sonho, maravilhosa, especial! Um mês depois, quando chegou o dia do pagamento, João não voltou para casa. Alice esperou seu retorno a noite toda acordada, imaginando o que poderia ter acontecido. Mal amanheceu e João entrava pela porta, cambaleante.

_Onde você estava? Perguntou Alice furiosa, ao perceber que o marido estava bêbado.

Neste momento, seu mundo ruiu. Ela não era mais tão especial quanto acreditava, pois no dia do pagamento, o marido retornava de madrugada, bêbado, com marcas de batom na camisa e cheirando a perfume barato! Não, isto ela não podia aguentar! Então, pegou a panela cheia de arroz que estava ao seu alcance e jogou no João.

_O que é isso, mulher, você está louca?

_Louco está você de pensar que eu sou idiota, que você pode me enganar como qualquer mulher da zona! Onde é que já se viu? Você está casado!

_Ué, eu sou macho! Homem que é homem não nega o que qualquer mulher pede.

_Qualquer mulher?! É isto que você acha que eu sou? Você me tirou da casa do meu pai!

_Por isso que eu me casei com você, senão não teria casado.

_Seu cafajeste! Agora voavam a panela de feijão, bem como outras panelas da casa.

_O que é isto? Vai quebrar tudo! Então, João, segurou os braços da mulher que insistentemente batiam nele, carregou-a para o quarto e fizeram as pazes na cama.

Já que estavam casados, Alice relevou este momento de fraqueza e começou a se iludir que o marido mudaria depois que fosse pai. Por isso, Alice ficou grávida de um menino que recebeu o nome de João Alberto.

Durante alguns meses, tudo pareceu mudar, mais porque João evitava deixar a mulher zangada, do que pelo fato de ter realmente mudado de atitude. Até que um dia, depois de receber o pagamento, João chegava tarde novamente e a cena se repetia. Agora o barulho de Alice devido à revolta contra a atitude do marido, só fazia o pequeno bebê acordar e começar a chorar. Então, Alice irritada, parava a briga para ir atender o filho. Infelizmente, estas brigas tornaram-se rotina.

João sempre acordava cedo para ir trabalhar e saía de casa passando frio, mas como os invernos vinham sendo rigorosos, não se preocupou em verificar a insistência de uma tosse. Por mais que Alice lhe dissesse para procurar um médico e se tratar, o marido não se tratava nem deixava de passar noites em claro, fazendo farra. Até que ele passou por um exame médico no emprego e lhe disseram que estava com problema no pulmão. Então, o médico o mandou ficar isolado em Campos do Jordão,num hospital especializado em tuberculose.

Alice foi visitar o marido algumas vezes, junto com o pai, o Senhor Ângelo. No entanto, esta visita era muito difícil, pois há sessenta anos era um percurso de oito horas, cerca de 440 km de distância. Alice ficava em casa, cuidando do pequeno João, recebendo ajuda do pai além do apoio moral da mãe.

Dois anos depois, João recebeu alta médica. Voltou para casa feliz e Alice ficou mais feliz ainda. Ela pensava que como o marido estivera doente, mudaria de atitude. E esta mudança ocorreu, porém não durou muito. Poucas semanas depois, a vida desregrada voltaria e João ficaria doente novamente. Porém foi definitivo.

O casamento de Alice com João resultou em decepção e muita briga. Concluindo com a viuvez de Alice aos vinte e dois anos. Daí para frente, ela contaria com o apoio dos pais para criar o pequeno João Alberto e passaria a ter uma vida profissional que duraria até o fim de sua vida. Entretanto, jamais se casaria novamente. Alice era o tipo de mulher que quando se decepciona é para sempre.

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