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domingo, 16 de maio de 2010

Doença Hereditária

Ana Paula era uma jovem de cerca de 20 anos. Vivia em Paraisópolis, numa casa de alvenaria caiada com quatro cômodos. Ana Paula se preparava para ter um bebê. Estava grávida de seis meses. Sentia muito sono e cansaço; comprava o enxoval do bebê aos poucos com seu salário de caixa de supermercado. Sempre fora uma pessoa esperta, cheia de iniciativas, apesar de não ter estudado mais do que o Ensino Básico.

Era muito boa em contas. Resolvia qualquer cálculo com facilidade. Por isso mesmo, era uma das caixas mais ágeis. Também era boa de papo, conversava como ninguém e vivia dando conselhos. Porém, nos últimos meses não andava tão bem. Suas colegas estranhavam:

_Ana, como está?

_Não estou muito bem não. Estou me sentindo muito cansada e com sono. Não consigo prestar atenção no trabalho.

_ E o Carvalho?

_Nas últimas semanas está sóbrio e disse que vai procurar emprego. Saiu hoje cedo para uma entrevista.

_Ana interrompeu a conversa, virou para a cliente e disse:

_O total deu R$237,00. Vai pagar com cartão? De débito ou crédito?

_Ah, débito.

_Pode digitar a senha.

_Obrigada.

Então a conversa com a colega continuou:

_Mas eu não estou bem mesmo. Já fui ao médico e ele me pediu uns exames. Amanhã cedo tenho que ir ao Posto buscar. Foi horrível fazer este exame, pois fiquei horas tomando um troço melado, enquanto tiravam amostras do meu sangue. Foi um saco!

_Ah, se Deus quiser não é nada!

_Assim espero.

Algumas semanas depois de retirar os exames, Ana voltou ao médico e entregou o envelope com o resultado dos exames. Depois de abrir o envelope e olhar os exames com atenção, o médico levantou a cabeça e disse:

_Dona Ana Paula, parece que a senhora tem diabetes gestacional.

_O que é isto, doutor?

_Existe um órgão chamado pâncreas que produz um hormônio chamado insulina, responsável por digerir os açúcares ingeridos pelo organismo. Se o pâncreas não produz insulina suficiente, os alimentos que você come não são corretamente aproveitados. Assim, o pão, as frutas, o macarrão, o arroz, o feijão, quase tudo que você come, com exceção das verduras, não será corretamente aproveitado. Aí, seu sangue fica com excesso de açúcar, assim como o sangue do bebê. Isto é muito perigoso porque você ou o bebê podem morrer se não fizer um tratamento conveniente.

_E o que eu tenho que fazer?

_Vou indicá-la para ir ao Hospital das Clínicas, pois lá eles têm uma equipe de médicos especializados em diabetes gestacional. A senhora deve ir agora e levar este guia para ser atendida. Provavelmente terá que ficar hospitalizada por alguns dias até que consigam controlar sua taxa glicêmica, ou seja, a quantidade de açúcar no seu sangue.

_Doutor, meu pai morreu porque ficou diabético!

_Diabetes é uma doença ingrata, causada por obesidade ou por características hereditárias, o que parece ser o seu caso. Talvez depois de o bebê nascer, você volte ao normal. A gravidez pode provocar diabetes porque neste caso todo o seu organismo tem que funcionar por dois e, às vezes, os órgãos não agüentam. Assim, seu pâncreas não consegue produzir insulina suficiente. Por enquanto, é importante fazer uma dieta, deixando de comer doces, pães, macarrão e comendo apenas duas frutas por dia, quatro colheres de sopa de arroz, uma colher de sopa de feijão e um bife (ou uma coxa ou ante-coxa de frango, ou uma fatia de peito de frango, ou um ovo cozido) no almoço e no jantar. Não se esqueça de comer bastante verdura, como: alface, repolho, almeirão, rúcula, acelga, agrião. Verdura não tem contra indicação e você pode e deve comer à vontade, principalmente porque ocupa lugar no estômago e tira a sensação de fome. Além disso, eles melhoram o funcionamento do intestino, limpando o sangue e a pele. As verduras são fonte de importantes vitaminas, como vitamina C, E, além de sais minerais. Você também pode comer legumes, como: cenoura, vagem, berinjela, abobrinha, mas apenas uma batata pequena ou um pedaço pequeno de mandioquinha por refeição. Evite gorduras e frituras!

_Tá certo, doutor!

_Mas vá correndo ao HC.

No dia seguinte, muito preocupada, Ana chegou às sete horas da manhã para conseguir ser atendida no HC. Pensando no que o médico disse, Ana aguardou até às onze e meia para ser atendida. Estava muito cansada, com fome, com sede e com muita dor nos pés. Era o segundo dia seguido que faltava no supermercado. Tinha pedido a sua vizinha, que trabalhava ao lado do mercado para passar lá e avisar ao supervisor que faltaria, pois estaria no médico.

Tirou as sandálias e enquanto esperava sentia uma angústia, lembrando do que acontecera com o pai. Seu Patrício morrera aos cinqüenta e cinco anos. Meses antes ele vinha se sentindo mais cansado que o normal. Tomava tanta água que sua esposa, Dona Leocádia, tinha que encher o filtro umas quatro vezes por dia. Seu apetite aumentar, no entanto, ao final de três meses ele emagrecera uns dez quilos.

Com a insistência de Dona Leocádia, ele fora ao Posto de Saúde e fizera exame de sangue. Estava diabético. O médico lhe passara uma dieta e lhe mandara tomar um comprimido uma vez por dia. Depois de alguns meses ele estava melhor. Mas não gostava de fazer dieta e, principalmente, bebia muito.

Alguns anos mais tarde, passou a ficar com os pés roxos. Ele reclamava de dor nos pés e ao mesmo tempo de falta de sensibilidade nos dedos. Estava perdendo a visão. Começou a reclamar de dor ao urinar. Foi diagnosticado com infecção urinária. Um dia, porém, há cinco anos, reclamou de forte dores no peito e quando o levavam para o Posto de Saúde, ele teve um ataque cardíaco e seu coração parou.

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