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domingo, 30 de maio de 2010

Tucuruí

Tudo começou em 1978, era do milagre econômico, conforme se dizia em casa. Nem sei ao certo por quê, afinal, eu tinha treze anos. Hoje, pesquisando mais sobre o assunto, vejo que o milagre econômico aconteceu no governo Médici, uns cinco anos antes, já que no Brasil passaram a existir as obras faraônicas como a Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói, as hidrelétricas; estavam investindo no futuro e precisavam de trabalhadores.

Meu pai, economista formado pela PUC/SP, com pós-graduação, era um entre poucos com nível superior e ótimas chances de emprego com salário significativo. Algumas pessoas como ele acreditavam que ficariam ricos. Afinal, o país crescia e precisavam de gente com bom nível de escolaridade, no entanto, existiam poucos no mercado.

Então, eu, meus pais e meus irmãos fomos viver em Tucuruí. Um povoado que lembrava o início da colonização do Brasil, no norte do país, estado do Pará, a 400 km da capital, Belém. Esta distância facilmente percorrida de automóvel no estado de São Paulo, não era tão fácil de percorrer assim. Primeiro, porque não havia estradas, segundo porque, nos seis meses de chuva, a região era muito irrigada e facilmente inundava. Avião era um meio de transporte muito utilizado.

Da primeira vez que viajei de avião foi quando mudamos para Tucuruí. Pegamos um Boeing 727 em São Paulo, saímos de um ambiente em torno de 20° na cidade e dentro do avião, para 40° no aeroporto de Belém. Quando descemos do avião, não tinha oxigênio. Além de calor, senti falta de ar.

_Mãe, cadê o ar?

_Não sei, realmente está muito quente aqui!

Não era só calor, a umidade do ar em determinados períodos, como no verão chegava a 80%. Dava uma sensação de mal estar, como se fôssemos sufocar com falta de ar.
A opressão era sentida como se estivéssemos dentro de uma caixa. Apesar disso, era tudo muito grande. As árvores eram imensas e fechadas, era impossível ver o céu. O céu era verde. Sentíamo-nos como se estivéssemos dentro de uma caixa forrada de plantas. O ar era úmido. As calçadas eram esburacadas, cheias de poças de água. Mas não era recomendável pisarmos numa poça, porque se molhássemos o pé pegávamos micose.

_Que choque ambiental!



Apenas duas vezes por ano viajávamos para Belém, quando viajávamos de avião monomotor, com lugar para seis passageiros. Então, quando tinha turbulência, sentíamos aquilo chacoalhar horrivelmente. Foi nossa primeira experiência com aviões e aeroportos. Meu irmão, que tinha oito anos, passou a adorar aviões e a dizer que queria ser piloto.

_Nossa, mãe, que legal! Quando eu crescer, quero ser piloto de avião. Como o avião funciona, pai?

_Venha, eu vou te levar à cabine. Aeromoça, podemos visitar a cabine? Meu filho quer saber como funciona um avião!

_Espere um momento, senhor, que eu vou verificar com o piloto.

Daí a alguns minutos a aeromoça voltou dizendo:

_Vocês podem vir comigo, que o capitão autorizou que vocês visitem a cabine.

Então, meu pai e meu irmão seguiram a aeromoça. Embora para mim tudo fosse novidade também, eu preferia olhar as nuvens pela janela da aeronave. Era interessante o formato que elas faziam. Eu me sentia leve e livre, apesar de estar sentada dentro de um avião. Imaginava a sensação do piloto. Isto sempre pareceu fascinante!

No aeroporto de Belém, pegamos um avião menor, um Cessna, que nos levaria para Tucuruí. Já no Cessna em que viajávamos de Belém para Tucuruí quase não havia separação entre o piloto e os passageiros. Como acontecia frequentemente pegamos turbulência, o aviãozinho começou a chacoalhar, senti um enjôo, mas sempre detestei vomitar.

_Filha, sente direito, afaste a cabeça para trás e procure ficar relaxada que o enjôo passa.Disse meu pai. Ele sempre foi ótimo para dar conselhos corajosos.

Foi o que eu fiz. Minha mãe, que sempre foi a apavorada por excelência, ficou nervosa quando viajou de Boeing e mais nervosa ainda quando viajou de Cessna. Só ouvíamos seus gemidos:

_Ai, ui, ai, meu Deus!

Foi tragicômico. Era uma aventura viajar de avião, mudar para outro estado, ir morar numa cidade menor do que o Bairro de Vila Madalena, onde morávamos.

Nossa, foi uma experiência! Agora percebo que minha história faz parte da História!
Hoje em dia, eu acesso no Google, pela internet, a vista do satélite e vejo a cidade de Tucuruí com 73.798 habitantes, de acordo com o Censo Demográfico de 2000, feito pelo IBGE. Acho tudo muito espantoso, porque quando eu cheguei à Tucuruí, a cidade mesmo, era um povoado no meio do nada. O que existia de diferente e com condições de vida muito melhores era a vila temporária e a vila permanente.

Ainda assim, a vila temporária era muito rústica, porque fora construída para os primeiros trabalhadores da hidrelétrica, piões, responsáveis pela terraplanagem e a construção da vila permanente, onde morariam os trabalhadores da hidrelétrica, assim como o corpo administrativo da empresa, responsável pela construção da hidrelétrica, de que meu pai fazia parte.

Então, moramos numa casa de três quartos, ampla, com varanda e um quintal que dava para a floresta amazônica. Nossa casa era de esquina e, na esquina seguinte, ficava o clube, com piscinas, quadras de tênis, quadras de futebol e salão de festas, onde ocorriam shows e tinha discoteca toda semana. Para alguém da minha idade, não tinha muito que fazer a não ser namorar!

E foi o que eu fiz.

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