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sábado, 21 de maio de 2011

Pai


O cachorro furioso se aproximou da menina de três anos. Se não fosse o pai tirá-la da frente e colocar a mão para protegê-la... É fácil proteger uma criança. Difícil é proteger o filho adulto. Apesar da mordida do cachorro ter causado alguns pontos na mão.

Meu avô não pôde proteger a filha Teresa de um mau casamento. Pediu, implorou, avisou. Sabia que as consequências não seriam agradáveis, mas não pôde fazer nada. Na igreja, todos o viram chorar até perder o fôlego e se admiraram. Era um casamento, não um funeral. Quando minha tia se casou, meu avô sabia que não podia protegê-la como meu pai fez comigo. Para uma criança ser pai é ser protetor. Meu pai sempre foi meu herói! Quando surgiram momentos na vida em que abri mão dos meus sonhos devido ao seu trabalho, eu o odiei. Deixei de acreditar. Mudar de São Paulo para Tucuruí, depois para Belém, depois para Brasília, sem poder fazer faculdade onde eu queria. Foi o suficiente para me tornar contra a instituição paterna, palavras do meu pai. Mal percebia que tudo partia dele. Os sonhos tinham vindo dele. As frustrações tinham vindo dele. Meu pai foi uma águia; jogou a prole da ribanceira e os fez voar. Meu avô foi uma galinha: protegeu até onde alcançaram suas asas!

Aos três anos, meu pai me salvava de uma mordida e começava o discurso: Não acredito que você diga que não consegue. Consegue sim. Consegue tudo. Temos que aprender a lutar para conseguir nossos objetivos. Não podemos esperar que outros façam o que precisamos ou queremos. No momento em que mais precisamos de ajuda, ninguém aparece para nos ajudar. Devemos levantar a cabeça e irmos à luta. Duro para uma criança? Verdade indiscutível. Não adiantou ele dizer que se enganara. O tempo tinha passado. Esta alma de cavaleiro tinha penetrado de tal forma naquela menina de três anos, que jamais acreditaria novamente. Vestiria o elmo e o escudo e sairia à luta, nunca entregando o coração. Nunca confiando no outro para realizar o que queria. Assim cresci. Dura por fora. Melada por dentro. Tanta doçura guardada acaba virando veneno.

Meu avô chorou, implorou, mas a filha Teresa casou com o cara mais bêbado, irreverente e preguiçoso de Piraju. Dali por diante, ela assumiu a responsabilidade. Foi mãe, esposa e mantenedora do marido, que nunca se esforçou para fazer nada. Nos últimos dias, quando esclerosado, ele perdeu a consciência, ela cuidou dele como mãe até seu último suspiro. Só lembrava as palavras do pai: Quem come a carne tem que roer o osso. A galinha também sabe ser uma águia.

Meu pai ainda vive elegante e inteligente. Ídolo de minhas inspirações. Modelo de minha vida. Antagonicamente, ele é a fonte da minha força e da minha fraqueza. Da crença e da dúvida. Da alegria e da tristeza. Da dor e da esperança. Pai é a estrela que ofusca enquanto meu planeta vive. Pai é tudo.

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