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sexta-feira, 15 de junho de 2012

FETICHE


Fetiche



Dizem que é fetiche quando algo pequeno, algum detalhe no outro, nos provoca tanta comoção. Mas, para ser um fetiche, é necessário que a pessoa que se emociona sempre fique tocada pelo mesmo tipo de detalhe. Lembro-me de uma obra de Rubem Fonseca, em que ele dizia o que sentia pelos sapatos vermelhos da mulher que amava. Relatava um encontro com a amada, em que ela estava na porta do cinema usando um par de sapatos vermelhos. E este detalhe no primeiro encontro o marcara tanto que nunca mais ele esquecera os tais sapatos vermelhos.

Sinceramente, não tenho nenhuma ligação com sapatos ou com os pés. Minha única necessidade neste sentido é calçar sapatos confortáveis, anatômicos e resistentes, do tipo que eu possa usar para pisar em rochas, pisar em lama, pisar em poças de água, e continuar com os pés seguros e protegidos. Se possível sou capaz de usar o mesmo par de sapatos por meses. Só os tiro quando chego em casa e ponho meu par de chinelos. Ou quando vou tomar banho, ou quando sento na cama, ou mesmo quando deito. Caso contrário, não olho para os pés. Na verdade, só olho para cima. Viver nas nuvens é pouco. Vivo além do possível e imaginável.

Porém pequenos detalhes são capazes de chamar minha atenção. Não sei porque ou como. Mas o cheiro de seus cabelos fartos e ondulados no travesseiro até me arrepia. Olhar você andando me estremece. Tocar sua pele quente, põe fogo em mim. Mais do que isso. Imagino um mundo de promessas, desejos, afetos, carinhos. Vejo um mundo quente e encantador. Mergulho numa atmosfera perfumada, cheia de tentáculos gasosos a me enrolar numa bruma úmida, arejada e viciante.

Não creio que seja fetiche. É algo químico que faz meus elementos entrarem em ebulição. Tem aroma de café e gosto de laranja. É puro sabor. Meu hálito muda. Meus pelos eriçam. Meu corpo se arrepia. Se é desejo? Sem dúvida. Um desejo cego, com vontade própria. De velas armadas para enfrentar novos ventos, novos mares, tempestades. Pode balançar o bote. Pode esticar as cordas. Pode exigir força. Não importa. Estou de prontidão.

Não apenas mergulho numa maré parcialmente desconhecida como procuro o desconhecimento com sofreguidão. Enlouqueço. Ajoelho. Entrego tudo e todo. E tenho tanta necessidade destas sensações. Que desconheço se vivo distante do que as provoca. Perco a noção do tempo. O espaço não existe além das fronteiras de seu corpo. A atmosfera só existe enquanto nos envolve. Lado a lado. Colados.

Deixou de ser um detalhe. É tudo. Não é fetiche.

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