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domingo, 19 de fevereiro de 2012

HISTÓRIAS

   Era uma vez. Mamãe sempre começa as histórias assim. Uma menina que se chamava Clarinha. Então vem a personagem principal. Esperta, alegre, criativa. Os heróis ou heroínas eram perfeitos em suas aventuras.
Clarinha vivia com seus pais na cidade. Tinha sete anos e era única filha. Até que sua mãe ficou grávida de novo.  Clarinha começou a sofrer. Achava que seria trocada no amor de seus pais por um bebê. Um ser que ela desconhecia. Que seria mais novo. Teria mais atenção. Então Clarinha teria que dividir seu quarto, seus brinquedos, o carinho de seus pais. Sofria, sofria.

Achou que de repente seria até mesmo mandada para fora de casa. Achou que iria a um orfanato. Justamente o lugar onde ficam as crianças, esperando ser adotadas por outros pais. Pensou que nem seria filha legítima. E que agora que o filho verdadeiro nascia, perderia de fato o reinado.

Quis ser um gato. Ou talvez até mesmo um peixe. E viver com a atenção e ração diárias, que os humanos lhes davam. Começou a perguntar aos amigos se os pais deles a adotariam. Então, pelo menos, ficava desde o início em casa de conhecidos. Os amigos olhavam penalizados, mas não diziam nada. Alguns mais espertos, que já tinham outros irmãos, informavam que era legal ter um irmãozinho. Era alguém para brincar, rir, brigar, contar histórias.

Então, eu resolvi lhe contar a história de Clarinha. Que quando o irmãozinho nasceu ficou tão feliz, que resolveu contar uma história para ele. Resolveu contar como chorou e sofreu na gravidez da mãe. Sofreu com seu nervosismo. Sofreu com seus enjôos e mal estar. Tentava agradar. Tentava ajudar. Mas nada parecia resolver. Começou a temer que acabaria perdendo a mãe para esta pequena estranha criatura que lhe tiraria a vida.

Quando chegou o dia e a mãe foi para o hospital... Ficou rezando em casa, para que o papai do céu cuidasse da mamãe e lhe ajudasse a sobreviver àquele processo que a consumia. Enquanto durava o parto, rezava, rezava. Horas se passaram e nada acontecia. Continuou nesse sofrimento. Dois dias depois, mamãe voltava para casa. Estava bem mais magra e mais feliz. Sua alegria chegava a brilhar. Olhou Clarinha e a abraçou. Veja filhinha, seu novo irmãozinho.

Clarinha, com medo, mas sem querer decepcionar a mamãe, olhou pra ele. Era tão pequeninho, tão minúsculo mesmo. Nem sabia como agir. Passou semanas só observando de perto. Até que notou o bebê sorrir. Ele sorria para ela. Achou mesmo que ele tinha piscado. Então resolveu lhe contar a história do medo que passou de perder a mamãe para uma estranha criatura que agora amava.  Terminou e sorriu. Sorriram os dois. Boa noite irmãozinho! Clarinha o beijou. Daí em diante, toda noite lhe contava histórias. As suas histórias.


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