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sábado, 18 de junho de 2011

Cerimônia



Meu pai foi minha mãe. Eu caminhava a seu lado em direção a uma nova vida que eu abraçava. Meu pai nos levava à escola e ia buscar. Todos os dias. Era professor, então sempre tinha um horário para estar presente. Foi a todas as reuniões de escola. Lia para a gente todas as noites. Acompanhava as dúvidas das lições. Minha mãe trabalhava em horário comercial. E quando chegava em casa, meu pai saía. Ela já estava cansada e ele ia começar a trabalhar. Sentíamos saudades e queríamos sua participação, mas ela não tinha paciência com nada. Se tínhamos alguma dúvida, ela nos dizia para perguntarmos ao nosso pai. Só era legal quando íamos às compras nos finais de semana, ou quando íamos ao salão de beleza, cortar os cabelos, fazer as unhas. Nestes momentos de vaidade, minha mãe era divertida. Mas no dia-a-dia, perdia a paciência muito fácil. Era comum ligarmos para o celular do meu pai, em meio a uma aula, para reclamarmos que não conseguíamos conversar com ela. Que mulher bonita! Mas que mulher inconstante! Até que um dia ouvimos ela reclamar. Não agüento mais esta vida de casada. Quero fazer outras coisas, quero viver novas experiências. Não quero mais viver com você! Meu pai sempre foi caladão, mas lembro de vê-lo abatido. Fui correndo ao seu lado, na primeira oportunidade para lhe dizer que tudo bem. Que nós o amávamos. Eu tinha treze anos e minha irmã onze. O juiz nos chamou para conversar. Nós não tínhamos combinado, mas respondemos que preferíamos ficar com meu pai. Ele ficou surpreso e feliz. Minha mãe ficou arrasada. Histérica, ela nos perguntou por que tínhamos decidido ficar com meu pai. E respondemos que ele nos passava mais segurança do que ela. Bem, a verdade é que eles se separaram e meu pai continuou nos acompanhando em todos os momentos. Continuávamos brigando com nossa mãe, continuávamos ligando para ele no meio das aulas. Agora, aqui estava ele, ao meu lado. Levando-me aos braços daquele que eu amava. Preparando-me para mudar para a Alemanha, onde meu futuro marido viveria por dois anos com uma bolsa de estudos do CNPq. Eu só podia me casar com um professor. Meu pai era professor universitário. Sempre cuidou de nós. Sempre esteve presente. Agora na igreja eu só rezava para ser feliz. E conseguir ser uma mãe tão boa quanto meu pai.

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