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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Diana

Era feriado, então resolvemos fazer um passeio ecológico. Visitar uma corredeira. Fazer caminhada. Estávamos todas de tênis de cano longo, a maioria de bermuda, devido ao calor e ao suor que escorria de nossas faces, de nossos cabelos, empapava nossos corpos quentes e úmidos.

Estávamos na mata atlântica, vegetação exuberante, sol, umidade, árvores frutíferas e muitas flores. Era primavera. Recebêramos indicações de uma corredeira não muito extensa, mas cheio de lamaçal. É claro que tínhamos tomado vários comprimidos de complexo B, pois nosso médico nos indicara a fim de evitarmos muitas picadas de insetos, além de beneficiarmos nossa musculatura e nosso sistema nervoso. Para fazer uma caminhada ecológica é sempre bom estarmos numa boa forma física, mental e espiritual.

Para algumas de nós, não se tratava apenas de um passeio ecológico, mas também de uma comunhão com a natureza e com o universo. Estávamos todas de biquíni embaixo das camisetas e bermudas, pois era definitivo nosso interesse por um bom banho de cachoeira. Fôramos informadas de que abaixo da cachoeira havia um lago de boa extensão e profundidade, ótimo para um banho relaxante.

Não se tratava de um passeio assim tão radical uma vez que não pretendíamos andar de caiaque ou mesmo fazer rapel. Porém andamos por cerca de cinco quilômetros, numa subida, até chegarmos ao local desejado.

Nossas mochilas carregavam toalhas secas, calcinhas, sutiãs, sabonetes, desodorantes, pentes e escovas de cabelo, além de presilhas e elásticos para prendermos os cabelos. É claro que não havíamos nos esquecido da garrafa de água que cada uma carregava, além de alguns sanduíches que variavam de queijo e presunto, atum com maionese, alface, rúcula e cenoura ralada e frango desfiado com azeitonas. Também faziam parte algumas frutas como: maçãs, bananas, pedaços de mamão papaia, pedaços de abacaxi cortado, ou mesmo, saladas de frutas.

Levávamos ainda kits de sobrevivência com álcool, esparadrapo, gaze, mercúrio cromo ou merthiolate, analgésicos e antitérmicos, algumas caixinhas de band aid, repelentes de insetos (embora não funcionassem tanto quanto a vitamina B). E, por fim, protetor solar. Sempre necessário neste sol tropical, de trinta graus à sombra.

As plantas eram muito bonitas, assim como algumas aves e alguns sagüis que haviam cruzado nosso caminho. Era uma picada aberta, portanto seguíamos uma trilha já feita para exploração por outros grupos de pessoas. Mas desta vez estávamos sós, entre mulheres. Éramos cinco ao todo. Ansiosas para achar a cachoeira.

Depois de cerca de quatro horas de caminhada puxada, morro acima, achamos a cachoeira. Podíamos vê-la do alto do morro. Para chegar até ela, precisávamos descer uma trilha de pedras. Era pedregoso e áspero. Mãos, tênis e bermudas já estavam ralados nesta descida. Ainda assim, algumas insistiam em escorregar pelas pedras úmidas. Na realidade, não nos restava outra escolha, uma vez que para voltarmos também tínhamos que descer pela trilha de pedras, ásperas, mas não tanto, no meio desta umidade. Escorregávamos no lodo e na lama. Não tinha quem não tivesse sido batizada de lama.

Bem, a partir do momento em que chegamos até o lago, pulamos com roupa e tudo. E ai de quem se atrevesse a demorar a pular, porque era jogada na água. Foi um momento mágico porque podíamos ver os últimos brilhos do sol refletidos na água, ao mesmo tempo em que a lua estava enorme! Tão próxima que sentíamos como se fôssemos tocá-la. Era a primeira noite de lua cheia. A lua era tão linda, que senti minha parte animal e comecei a uivar para a lua. Uma das mulheres se empolgou e começou a desabotoar a blusa, tirar o cinto, abrir a bermuda e jogar na grama ao lado. Não se contentou em ficar de biquíni, começou a tirar a parte de cima.

O instinto nos pegou. Porque não pensamos. Quando uma de nós se despiu, todas ansiaram por sentir o brilho do sol e o nascer da imensa lua tomarem seus corpos. Brilhávamos duplamente. Éramos luz, sensação, calor, brilho, esperança, encanto, pele, pêlos, água, lama.

Começamos a nos enlamear e a nos lavar, com água e lama, ao mesmo tempo em que o sol morria e a lua nascia.

Sentíamo-nos mais do que simples pessoas, éramos mulheres, cheias de natureza, cheias de desejo, quentes, fervendo a água que nos tocava, moldando o barro que nos enlameava.

Éramos corpos ardentes e úmidos, molhados, encharcados. Éramos a umidade do desejo que nos fervia.

Aproximamo-nos. Sentimos nossos hálitos, nosso calor, nosso desejo, nosso princípio e nosso fim. E nos amamos.

Tocávamos nossos peitos, nossas mamas, nossos lábios, nossos púbis, nossas vaginas, nossos clitóris. E sentíamos. Mais do que nunca sentíamos. Sentíamos o poder da vida e do desejo.

Nossas mãos já tinham passeado pelos nossos corpos. Nós nos amávamos. Não nos importava se éramos gordas ou magras, morenas ou loiras, brancas ou negras. Éramos beleza e desejo. Assim como o sol e a lua.

Nossa entrega era total, como a lua cheia no céu, como seu reflexo no lago. Sentimos o sol e a lua nos nossos corpos. Brincamos com os dedos, com os lábios, com os sexos. Dedilhamos cada região dos nossos corpos que precisasse ser amada. Cada curva exuberante, cada recanto escondido era descoberto e explorado, ao máximo possível.

Gemíamos.

Nossos uivos eram gemidos de prazer. A água nos molhava e saía de nossos corpos em gotas de gozo e uivo.

Éramos unas. Éramos deusas. Éramos amadas. Podíamos tudo. Fazíamos tudo.

Acendemos a fogueira e dançamos a sua volta. Dançamos com a música da natureza. Ao som dos grilos, ao som dos animais noturnos. Ao som de nossas vozes.

Montamos nossas barracas e dormimos nuas. Em comunhão. Tivemos lindos sonhos e acordamos curadas de nossas neuroses, de nossas angústias, de nossos cansaços, de nossa falta de amor, da civilização...

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